terça-feira, 7 de novembro de 2017

Encarnação.IX


A vida em Nazaré: descobrir Deus no cotidiano
Texto: Afonso Murad
Ícone: Pe. Renato,SJ.

Constantemente somos bombardeados com o ideal do ser humano como “uma celebridade”, que deve aparecer o máximo possível. Nos perfil das redes sociais, as pessoas se mostram jovens e bonitas. Compartilham fotos e vídeos somente de momentos alegres. Por todo lado se estimula uma super-exposição. Nas igrejas cristãs se espalha a visão de que a fé exige milagres e manifestações extraordinárias. A meta é o sucesso na vida profissional, na saúde e na família. Acumular e mostrar muitos bens de consumo! Ora, se este é o modelo do ser humano feliz, então não se entende os longos anos silenciosos de Jesus em Nazaré, com Maria e José.

A chamada “vida oculta” da família de Nazaré nos diz que os frutos mais saborosos da vida necessitam de tempo para serem semeados, cultivados e amadurecidos. E há certos tesouros da vida pessoal que não devem se tornar públicos, pois perderiam seu encanto.

No livro O cotidiano de Maria de Nazaré, Clodovis Boff diz que na experiência de Maria, o lugar normal do encontro com o Divino é justamente o cotidiano. Assim, algumas pinturas representam a Anunciação quando ela se encontra fiando a lã ou tirando água da fonte. Ninguém podia imaginar o que se passava no reverso divino dessa vida igual à de todo mundo. Sua existência, seu rosto e até seu nome não tinham nada de especial no mundo em que vivia: eram comuns a tantas filhas de Israel.

Maria vivia esse cotidiano de forma extraordinária. Personificava cada evento, perguntando-se no fundo do coração o que Deus queria lhe dizer. A misteriosa alquimia para transfigurar sua vida era a meditação amorosa e confiante. Mulher reflexiva que era, repassava os acontecimentos de cada dia, num coração impregnado de fé e de amor (Lc 2,19.51). Ela experimentou sua existência com grande intensidade: a máxima alegria em eventos como a visitação e a ressurreição de Jesus, e a máxima dor em fatos como a perda no templo e a morte de Jesus na cruz.

O Papa Francisco nos diz: “a espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres” (Laudato Si 222). As pessoas que saboreiam mais e vivem melhor cada momento são aquelas que deixam de petiscar aqui e ali, sempre à procura do que não têm, e experimentam o que significa dar apreço a cada pessoa e a cada coisa, aprendem a familiarizar com as coisas mais simples e sabem alegrar-se com elas (nº 223).

Que Maria de Nazaré nos ensine a desenvolver a vida simples e centrada no essencial. Amém!



segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Pantocrator.2017.


Crer em Jesus Cristo hoje - I
Texto: Pe. Manuel Hurtado, SJ
Ícone: Pe. Renato,SJ.

Esta é a vida cristã: vivermos “[…] com os olhos fixos naquele
que é o autor e realizador da fé, Jesus” (Hb 12,2).

INTRODUÇÃO

Que significa crer em Jesus Cristo hoje? Sua vida, sua pessoa e seu estilo de viver ainda nos dizem alguma coisa? A mais de 2 mil anos das primeiras comunidades que com ele viveram, somos instigados a interrogar nossa fé em Cristo. É essa interrogação que nos permitirá entrar no âmago do sentido do crer em Jesus Cristo hoje. Não se trata simplesmente de dar uma resposta conhecida, pronta, como a de muitos catecismos e livros de formação que circulam em nossas paróquias. Tampouco se trata de dar resposta que busque um recuo identitário e excludente, pouco dialógico, ao qual estão tentados alguns grupos cristãos contemporâneos. Torna-se necessária uma resposta mais de cunho pessoal e experiencial, resposta que transpasse nossas entranhas crentes. Uma resposta crente, sim, que, contudo, não ignore a contribuição das pesquisas históricas realizadas sobre Jesus, especialmente durante o século passado e inícios deste. É necessário voltar ao elementar da fé e da vida cristã.

A imagem de Jesus Cristo foi deturpada ao longo das épocas. Houve uma multiplicidade de imagens de Jesus Cristo em circulação, e muitas delas ainda circulam em nossos dias. A figura de Jesus de Nazaré esteve sempre exposta e indefesa, muitas vezes à mercê dos desejos desordenados dos seres humanos. O Jesus dos evangelhos foi se diluindo num mar incomensurável de ícones falsificados. Por isso, crer em Jesus Cristo hoje não é algo evidente. Constatamos que a fé cristã, nos dias atuais, não se transmite mais culturalmente como aconteceu durante vários séculos em nosso continente… A matriz cultural da fé cristã que tornava possível a sua transmissão já não é onipresente.

Sabemos bem que muitos que professam a fé cristã acreditam em tudo, menos em Jesus Cristo morto e ressuscitado! Sentimos que a vida cristã se separou paulatinamente do que lhe é central: viver seguindo o estilo de Jesus de Nazaré. O cristianismo foi aos poucos acumulando lastros inúteis, sobrepondo à imagem do Jesus dos evangelhos e ao cristianismo histórico uma série de práticas piedosas, devoções quase idolátricas e rituais exangues que conduziram à deturpação da espiritualidade, da oração e do culto cristão. Lamentavelmente, aquilo que era completamente marginal, secundário e prescindível tornou-se fundamental, primário e indispensável.
Nosso itinerário é simples. Trata-se de um caminho de volta a Jesus. Desenvolve-se revisitando alguns lugares fundamentais de sua vida. Se voltarmos aos caminhos de Jesus, é para reconhecê-lo neles. Se transitarmos pelos caminhos da comunidade cristã nascida depois da Páscoa, é para tentarmos percorrer, ao mesmo tempo, os caminhos de nossa própria comunidade de fé, isto é, revitalizar a nossa fé em Jesus, confessado como o Cristo. É para sermos cristãos ao estilo de Jesus Cristo, autor e realizador de nossa fé.


Continua…

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Cubismo

Cubismo



O cubismo é um movimento artístico que surgiu no século XX, nas artes plásticas, tendo como principais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque e tendo se expandido para a literatura e a poesia pela influência de escritores como John dos Passos e Vladimir Maiakovski.O quadro "Les demoiselles d'Avignon", de Picasso, 1907 é conhecido como marco inicial do cubismo. Nele ficam evidentes as referências a máscaras africanas, que inspiraram a fase inicial do cubismo, juntamente com a obra de Paul Cézanne.

O cubismo tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando as partes de um objeto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter nenhum compromisso com a aparência real das coisas.

Historicamente o cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas.

O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes.

Evolução do movimento

Fase cezannista ou cezaniana (1907 a 1909): Influência do francês Paul Cézanne.

Fase analítica ou hermética (1909 a 1912): caracterizado pela desestruturação da obra em todos os seus elementos. Decompondo a obra em partes, o artista registra todos os seus elementos em planos sucessivos e superpostos, procurando a visão total da figura, examinado-a em todos os ângulos no mesmo instante, através da fragmentação dela. Essa fragmentação foi tão grande, que se tornou qualquer figura nas pinturas cubistas. A cor se reduz aos tons de castanho, cinza e bege.

Cubismo sintético (1913 1914): reagindo à excessiva fragmentação dos objetos e à destruição de sua estrutura. Basicamente, essa tendência procurou tornar as figuras novamente reconhecíveis. Também chamado de Colagem porque introduz letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal e até objetos inteiros nas pinturas. Essa inovação pode ser explicada pela intenção dos artistas em criar efeitos plásticos e de ultrapassar os limites das sensações visuais que a pintura sugere, despertando também no observador as sensações táteis.
Desta última fase decorrem dois movimentos:

Orfismo
Secção de Ouro

Características

Geometrização das formas e volumes;
Renúncia à perspectiva
O claro-escuro perde sua função;
Representação do volume colorido sobre superfícies planas;
Sensação de pintura escultórica;
Cores austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um castanho suave.
Cores fechadas.

Artistas plásticos


Juan Gris, 1914: Homem no café

Paul Cézanné
Paul Gauguin
Pablo Picasso
Georges Braque
Juan Gris
Kazimir Malevich
Lyonel Feininger
Fernand Léger
Umberto Boccioni
Robert Delaunay
Diego Rivera
Alexandra Nechita
Tarsila do Amaral
Vicente do Rego Monteiro
Piet Mondrian